Genética e Autismo - Parte 4
Houve um tremendo progresso na identificação das variantes genéticas que têm impacto no desenvolvimento de distúrbios do transtorno do espectro autista (TEA),
o que fornece preciosa informação para o melhor entendimento dos processos biológicos que causam autismo e também do importante grupo de distúrbios e de comorbidades associadas, o que implica na possibilidade de intervenções precoces e assertivas. Por exemplo:
- Portadores de TEA que apresentam deleção de 22q11.2 podem apresentar comorbidades adicionais, como aumento do risco de doenças cardiovasculares, anormalidades velofaríngeas, imunodeficiência e comprometimento do metabolismo do cálcio (Vorstman et al., 2017).
- Indivíduos portadores de TEA e com deleção 22q11.21 devem receber acompanhamento do desenvolvimento neurológico, pois há uma grande chance de desenvolverem transtornos psicóticos no final da adolescência ou início da fase adulta (Vorstman et al., 2017).
- Mutação no gene que codifica a proteína dependente da atividade homeobox neuroprotetora (ADNP), está associada a maior risco de defeitos cardíacos, deficiência visual, epilepsia e menor eficiência do sistema imune. Portanto, necessitam de acompanhamento diferenciado (Vorstman et al., 2017).
- A duplicação 1q21.1 também pode levar, entre outros, a Deficiência intelectual, epilepsia e esquizofrenia (Vorstman et al., 2017).
- A pleiotropia fenotípica não se restringe às CNVs, mas também está associado a muitos SNPs que levam a TEA. Por exemplo, além de aumentar o risco de TEA, SNPs no gene SCN2A estão associados a taxas mais elevadas de deficiência intelectual, esquizofrenia, epilepsia e episódios de ataxia. Além disso, outros distúrbios associados podem se estender além dos fenótipos relacionados ao sistema nervoso central. A deleção de 3q29 também está associada a taxas aumentadas de problemas gastrointestinais e defeitos cardíacos. Embora seja desafiador, identificar o painel completo de fenótipos que são afetados por diversas variantes genéticas é crucial, pois apresenta uma valiosa oportunidade de melhorar o gerenciamento clínico das condições coexistentes em portadores de TEA (Vorstman et al., 2017).
A genética também pode auxiliar no melhor tratamento farmacoterápico:
- Pessoas com comportamento agressivo severo e deleções de 15q13.3, que incluem o receptor colinérgico nicotínico α7 (CHRNA7), parecem obter significativo benefício com o tratamento com galantamina, o qual é tanto um modulador alostérico de CHRNα7, como um inibidor da acetilcolinesterase (Vorstman et al., 2017).
- Portadores de TEA e deleção 17q12, podem apresentar transtorno psicótico e distúrbios do humor. Em virtude disto, podem precisar de medicação para estabilização do humor e antipsicótica (Vorstman et al., 2017).
- Dada a nefrotoxicidade do lítio e associação de olanzapina com ganho de peso e síndrome metabólica, os fatores genéticos evidenciam a necessidade de escolher uma medicação e dosagem personalizada para o paciente. (Vorstman et al., 2017).
Biomarcadores genéticos podem ajudar na escolha da melhor intervenção comportamental.
- Durante o desenvolvimento e ao longo da vida, uma série de processos dinâmicos regulam o número, tamanho, forma e força das sinapses neuronais. Essas mudanças ocorrem através de alterações na composição molecular de sinapses e através da modificação química de proteínas sinápticas. Entretanto, as vezes, os genes que codificam essas proteínas sinápticas como SH3 e SHANK3, por exemplo, portam mutações que resultam na produção de proteínas disfuncionais, incapazes de cumprir sua função sináptica. As conseqüências de tais mutações sinápticas podem afetar a estrutura protéica e a função, levando a defeitos sinápticos e de circuitos neuronais, o que pode levar a importantes impactos no neurodesenvolvimento e na neuropsiquiatria. Portadores de TEA com deleções no gene SHANK3 tendem a ter maiores habilidades de comunicação receptiva do que linguagem expressiva (verbal). Portanto, podem se beneficiar de uma comunicação assistida (Vorstman et al., 2017).
Continua no próximo post.
Traduzido e adaptado de Vorstman et al. Autism genetics: opportunities and challenges for clinical translation . Nature Review Genetics. doi:10.1038/nrg.2017.4 Published online 6 Mar 2017.
Saiba mais: 08000011223.
www.multigene.med.br