O gene ACE2 codifica a enzima ACE2, que pertence à família das enzimas conversoras de dipeptidilcarboxipeptidases a qual possui considerável homologia com a enzima conversora da angiotensina 1. ACE2 catalisa a clivagem da angiotensina I em angiotensina 1-9 e da angiotensina II no vasodilatador angiotensina 1-7. ACE2 desempenha diversas funções, inclusive na regulação da função cardiovascular e renal, bem como na fertilidade.
Além disso, ACE2 é um receptor funcional da glicoproteína “spike” do coronavírus humano HCoV-NL63 e dos coronavírus da síndrome respiratória aguda grave humana, SARS-CoV e SARS-CoV-2 (vírus da COVID-19). O SARCOVS-2 entra na célula através da ACE2, serina proteases transmembranares tipo II (TMPRSS2) e furina.. A proteína S (spike) do coronavírus da COVID-19 se liga à ACE2 com alta afinidade.
A ligação da proteína S do SARS-CoV-2 a ACE2 desencadeia uma alteração conformacional na proteína S do coronavírus, permitindo a digestão proteolítica pelas proteases das células hospedeiras (TMPRSS2), facilitando assim a fusão com a membrana da célula humana e subsequente resposta do sistema imunológico.
Sama et al. (2020), analisaram os níveis de ACE2 no plasma de 1485 homens e 537 mulheres (estudo coorte índice), provenientes de grupos de pacientes com insuficiência cardíaca de 11 países europeus. Posteriormente, validaram os resultados em um segundo grupo de 1123 homens e 575 mulheres (estudo coorte de validação). Os pesquisadores verificaram que o maior fator preditor de elevados níveis de ACE2 foi o sexo masculino em ambos os estudos (estimativa = 0,26, P <0,001 e 0,19, P <0,001, respectivamente).
O uso de inibidores de ECA, bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA) ou antagonistas dos receptores de mineralocorticoides (MRAs) não foram associados a maiores níveis de ACE-2 no plasma, no estudo índice. No estudo de validação, inibidor de ECA (estimativa = - 0,17, P = 0,002) e uso de BRA (estimativa = –0,15, P = 0,03) foram preditores de menores níveis de ACE2 no plasma.
Segundo os autores, “este estudo ajuda a explicar porquê homens apresentam maior probabilidade de morrer de COVID-19 do que mulheres“. A análise dos níveis de ACE2 foi realizada no plasma e não nos tecidos. Portanto, segundos os próprios autores, não há certeza de que os níveis de ACE2 sejam maiores nos tecidos.